16 de set. de 2010

Vamos ao passeio ciclístico no Dique do Tororó


Em tempos de debate sobre Mobilidade Urbana, nada mais oportuno que despertar na população o espírito solidário, também, no que se refere ao trânsito caótico de Salvador. Os transtornos provocados pela quantidade absurda de carros que hoje trafegam e emperram as ruas e avenidas desta capital são muitos. E a todos preocupam. A questão-chave é: chegou a hora de se andar mais sem automóvel. É um desafio, sem dúvida, para uma cidade de cerca de três milhões de habitantes e até hoje sem boas alternativas de transporte de massa. Um cochilo, que nem se pode atribuir a um prefeito só e sim a equívocos e omissões de muitas administrações. Este é o sentimento, inclusive, de Lúcia Saraiva, coordenadora do Passeio Ciclístico do Dique do Tororó, programado para 22 de setembro, Dia Mundial sem Carro.


A data, que entre nós será marcada por ações da Ciclolução Salvador, ainda faz muita gente torcer o nariz. Muitos incrédulos, que desprezam ou nem querem ouvir falar nessa história de ficar sem andar carro, mesmo que seja por um dia. Ao contrário, o Dia Mundial sem Carro vem conseguindo sensibilizar parte dos habitantes das principais metrópoles do mundo, e no Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. A adesão cresce, inclusive, proporcionalmente à postura de políticos e gestores que vão adiando soluções drásticas para resolver os problemas do trânsito de cidades como Salvador.


Segundo Lúcia Saraiva, o evento do próximo dia 22 vai servir para as pessoas mostrarem que não estão nada satisfeitas com o caos urbano e os engarrafamentos monstros que diariamente infernizam a capital baiana. “O nosso passeio do Dique de Tororó pode se repetir em outros bairros, em forma de outras ações, do tipo a pé, de skate, de patins. Enfim, contanto que sirva para mostrar que as pessoas entenderam a importância simbólica de ficar um dia sem usar carro...”


Sinal de alerta


Esta mobilização pacífica e prazerosa pode até servir de alerta às autoridades. É verdade que Salvador está ficando uma cidade sem espaços para o pedestre circular, para quem gosta de se deslocar de bicicleta...Lúcia adverte que a orla marítima é uma exceção: “As avenidas e ruas da chamada parte mais moderna de nossa capital não reservam grandes calçadas para as pessoas circularem livremente”.


De fato, salvo a Avenida Manoel Dias da Silva, não existe mais aquele prazer bem soteropolitano de se caminhar nas largas e bem conservadas calçadas. Lúcia Saraiva observa ainda que “nos bons tempos, os baianos tinham a Avenida Sete de Setembro, a Rua Chile... Hoje, tudo aquilo virou abandono, decadência, com os camelôs dominando toda a área do centro antigo de Salvador. Uma pena!”


Paradoxalmente, convém salientar que nas áreas do Iguatemi, da Av. Tancredo Neves e outras, os urbanistas e construtores da nova Salvador só priorizaram os espaços para os carros. Quase nada ficou para o pedestre. Lúcia se opõe firmemente a esta falsa tendência modernizante, apontando o sofrimento e os riscos a que os pedestres estão expostos ao circularem por estreitos e acanhados passeios existentes naqueles trechos. Isto quando eles existem. Ou então estão tomados por veículos, cujos proprietários irresponsavelmente estacionam ali.


Depois de ouvir Lúcia Saraiva, tem-se a sensação de que o bom-senso urbano se perdeu no emaranhado de obras públicas que surgem nesta cidade. Muitas delas, inclusive, fracassadas, como o famigerado metrô (meia-sola) de Salvador. Mas, que tal pensar num dia sem carro?


É o que pretendem os organizadores do “Ciclolução de Salvador”. Tanto que convidam a todos, principalmente aqueles que se opõem ao caos que esse progresso urbano pelo avesso transformou Salvador, a participar do passeio ciclístico do Dique do Tororó, em 22 de setembro. O evento vai marcar o Dia Mundial sem Carro.

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